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    César Fonseca

    Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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    Porque a "Doutrina Amorim" incomoda tanto o Globo

    "Os números falam por si só quando atestam que o PIB dos BRICS já supera, em paridade do poder de compra, o PIB do G20, países ocidentais", diz César Fonseca

    Celso Amorim e Lula (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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    A repórter Malu Gaspar, como não poderia deixar de ser, vocaliza interesse do Globo, porta-voz de Washington.

    Ela está incomodada com o que denomina "Doutrina Amorim", nas relações externas, como se fosse algo que se desenvolve no exterior da realidade quanto à relação Planalto-Itamarati.

    O que seria tal Doutrina?

    Trata-se da percepção, não só de Celso Amorim, assessor internacional, mas, também, do presidente Lula e, claro, do Itamaraty, de que o BRICS tornou o Brasil mais forte, bem, como, também, o chamado Sul Global.

    Os números falam por si só quando atestam que o PIB dos BRICS já supera, em paridade do poder de compra, o PIB do G20, países ocidentais.

    Essa supremacia geopolítica e econômica, que é dada pela maior participação da China, como potência comercial, no BRICS, encorpada pelo poder militar da Rússia, que já ultrapassa o poder nuclear dos Estados Unidos, compõe, claro, a "Doutrina Amorim" em múltiplos aspectos.

    O mais importante deles é o fato de que o Brasil vira a maior potência agrícola do planeta como maior subsídio ao fortalecimento dos BRICS, no contexto da economia mundial.

    Sem as proteínas produzidas pelo Brasil, a força da China não é a mesma, no plano da economia mundial, como consumidora formada por mais de 1,4 bilhões de bocas.

    O Brasil se fortalece comprando produtos industrializados da China em maior escala do que da Europa, de modo a registrar crescente superávit na balança comercial e na balança de pagamentos em contas correntes, se comparados com as trocas realizadas com os velhos imperialistas europeus.

    É outra realidade!

    Ao não sofrer mais, como antigamente, de forte deterioração nas relações de trocas comerciais com a Europa, Brasil detona, por isso, o acordo União Europeia-Mercosul, não por iniciativa própria, mas porque a França resolveu cair fora do acordo.

    A indústria europeia perde espaço para os produtos industriais chineses, que, mais baratos, atendem a América do Sul em vantagem competitiva.

    Os sul-americanos caminham para fazer superávit comercial com europeus, revertendo a deterioração nos termos de troca, porque têm a China como alternativa.

    Bingo.

    O BRICS, portanto, contribui para formulação da Doutrina Amorim, que contraria interesses europeus e americanos, enquanto fortalece interesses chineses, que se fecham com interesses do Brasil, no novo contexto internacional, configurado pela emergência dos BRICS.

    NOVO CENÁRIO BRASIL-EUA - A Doutrina Amorim, portanto, é um complexo geopolítico que aumenta o poder relativo da fala brasileira no concerto internacional.

    Ela, nesse instante, incomoda profundamente, a marcha genocida insana do primeiro ministro Benjamin Netanyahu de tentar exterminar os palestinos, como Hitler exterminou mais de 6 milhões de judeus, na segunda guerra mundial.

    A questão central é de qualidade, não de quantidade: Netanyahu é Hitler e Hitler é Netanyahu, em termos substantivos.

    O secretário de Estado americano, Tony Blinker, em visita a Lula, refletiu tal momento, nos preparativos da reunião do G20.

    Clareou, portanto, a Doutrina Amorim/Lula de interdependência brasileira na cena internacional.

    O poderoso secretário americano foi comedido em posicionar-se pró-Israel sem desconsiderar Amorim-Lula-Itamariti pró-Palestina.

    PAZ X GUERRA - Essa equidistância entre as duas partes, que poderia ser balizada por equipotência diplomática, no contexto do G20, do qual Brasil exerce presidência, no momento, joga, geopoliticamente, a favor da paz contra a opção pela guerra que une EUA-Israel.

    Estivesse o Brasil fragilizado, como antes, no plano das trocas comerciais, tanto com Estados Unidos como com Europa, quando, ainda, não emergia, como agora, o poder dos BRICS, no âmbito do qual a participação relativa brasileira é cada vez mais poderosa, inexistiria, claro, a Doutrina Amorim e o jornal O Globo não estaria tão incomodado com ela, como ocorre nesse momento.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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